Editorial
Desde nosso número inaugural (0) a maior parte dos textos editoriais de uma maneira ou de outra abordou o que as exposições da prática enquanto pesquisa são, ou podem ser. Muitos destes editoriais, permaneceram na fundamentação das considerações sobre como navegar e desenvolver um campo no JAR, ontologicamente, institucionalmente e também políticamente. Ao mesmo tempo, há também editoriais que focaram mais na realização material de construção das exposições: JAR3 se voltou ao design como distribuições específicas das mídias; JAR6 destacou o papel que o processo pode desempenhar; JAR8 discutiu as práticas de apropriação etc. Tendo achado nosso solo após esses primeiros anos, desde então, alguns editoriais se esforçaram a extrair conclusões mais específicas sobre a exposicionalidade: JAR11, por exemplo, chamou a atenção para a 'imagem mais competa’ em ‘articulações suficientemente complexas’; JAR15 caracterizou o que seria esta emergente medialidade; e JAR28 viu nas exposições específicos e diretos relacionamentos entre o que é dado e o que não é dado.
Olhando retrospectivamente, é alarmante como a linguagem guinou a uma abstração, trazendo em mãos seus próprios termos e específicos modos de fazer sentido, independentemente do fenômeno ser mais concreto. É claro, este fato não deveria trazer surpresas, dado o quanto delicado o concreto aqui é: podemos mostrá-lo e entendê-lo em sua riqueza, porém, ao mesmo tempo, somos incapazes de explicá-lo em vários níveis. É como se, ao ler uma exposição, tivéssemos ao menos de atravessar parte dos procedimentos operacionais da exposição, para ver (ou ouvir!) não somente o sentido criado para nós em uma página, mas também dentro de nós, em nossa imaginação. O que isto diz da natureza comunicativa das exposições e o modo, pelo qual, as audiências são informadas sobre a pesquisa artística?
Para responder a esta questão, aprofundemos nossa memória de uma exposição que consideramos valiosa. Sim, posso lembrar-me de seu título ou o nome dos autores mas, isto, pode ser apenas um identificador em particular, quando relaciono a exposição com outros trabalhos. Mais importante, do que isto, parece ser a memória de certas zonas ou momentos quando lembro de uma exposição agindo. Estes momentos não são diretamente acessíveis, mesmo em minha memória; ao contrário, um tempo é necessário para tornar ativos estes momentos, e pode ser que eu falhe neste procedimento em uma primeira leitura, ou, mesmo retrospectivamente. Em alguns casos, estes momentos de trabalho apenas se encaixam, e em outros, ainda, apesar de meus melhores esforços, me sinto excluído.
Quando digo que é preciso um tempo, o que quero significar na verdade é que não posso recordar, de maneira direta, o ponto no qual o sentido é concretizado; tenho antes uma vaga memória onde ele se forma, e o que em sua proximidade é requerido, mas preciso novamente ver as coisas conectadas para ter acesso ao significado. Estranhamente, porém, nas exposições, as coisas são também conectadas de outras maneiras, o que tem o efeito que em minha memória da exposição, com as conexões, também me lembro de tensões que sugerem às vezes modos contraditórios de leitura. As relações são múltiplas e cambiantes enquanto os pontos de referência são deslocados. Em outras palavras, lembro do significado de uma exposição, em sua plasticidade, como flutuante.
O estranho é, que tanto a tela quanto minha imaginação parecem com frequência — mas não sempre — capazes de apreensão de coisas tão múltiplas e, por vezes, contraditórias e, poderíamos argumentar que aí está o propósito primordial das exposições: tornar possível a apreensão de um pensamento complexo de forma a ser compartilhado. Isto é, evidentemente, o que nos referimos como leitura e escrita, mas abordado através da prática da exposição, destacamos o material e as dimensões midiáticas das exposições. Material, pois as exposições são realizadas com coisas concretas; midiáticas, uma vez que nas exposições estas coisas se combinam para operar em específicas, e por vezes, múltiplas maneiras.
Destas especulações podemos extrair uma explicação do porque é tão difícil e raro que exposições referenciem outras exposições, uma vez que o ponto de referência não é estável nem dado. Podemos também entender que casos de uma 'boa prática’ não possam ser facilmente listados, pois boas práticas devem se diferenciar de caso a caso. Podemos também entender porque em tantos casos vemos lugares à prova de avarias construídos nas exposições, que reduzem a complexidade, e aumentam o conteúdo proposicional. De fato, não temos ainda visto exemplos de referenciação exposicional, tampouco, para ficarmos no assunto, de radicais exposicionalidades. Como estas se mostrariam?
Retornando para a questão da comunicação, com as exposições não apenas compartilhamos novos significados e compreensões como informação sobre alguma coisa. Aqui, a informação não é conteúdo contido em uma forma, mas o processo pelo qual o significado é aderido à forma como um modo de sua propagação. Está aqui implicado, no entanto, é que cada contexto material não apenas relaciona coisas diferentemente mas, também, de múltiplas maneiras. Isto cria uma situação onde emissor e receptor — para manter uma noção desatualizada — podem se manter interrelacionados depois do ato de comunicação, uma vez que as coisas que possuo, ou as coisas que sou, podem se conectar da mesma forma, ultrapassando os limites daquilo que usualmente chamamos mensagem. Não seria inimaginável que as coisas permaneçam conectadas de maneiras mais fundamentais, tanto espacial quanto temporalmente.
Michael Schwab
editor chefe