Editorial

Por que não temos falado mais sobre a ‘pesquisa artística’ em relação aos mestrados (ou ao mestrado de Belas Artes) e, em particular, sobre engajamentos com práticas de pesquisa que são significativas e ricas mas não suficientemente capturadas pelas definições padronizadas do termo? Por que a pesquisa artística é sempre atrelada à questão da educação em nível de doutoramento no campo artístico desconectando a maioria dos artistas em educação da questão do conhecimento? Como a pesquisa artística impacta os artistas que finalizaram o mestrado em artes e que, até então, ainda não se decidiram por cursar o doutorado? Como o trabalho deles é significativo para nós? Como fui convidado por diversas instituições de arte na Europa este ano para me engajar com mestrandos eu gostaria de acrescentar algumas sugestões aos diferentes debates que fui feliz de testemunhar.

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Historicamente, é o que tudo indica, há bons argumentos para focar o terceiro ciclo de educação (a graduação seria o primeiro, o mestrado o segundo e o doutorado o terceiro), uma vez que o direito de conceder a titulação de doutoramento nem sempre foi um direito adquirido pelos conservatórios e escolas de arte; a pesquisa artística tinha de se esclarecida e definida não tanto para artistas, mas para uma comunidade acadêmica de não artistas. Dependendo de como as relações acadêmicas se estabeleceram num contexto nacional específico, diferentes pontes institucionais foram criadas para acomodar a pesquisa artística. Enquanto em alguns lugares escolas de artes e conservatórios alcançaram o estatuto de universidade e obtiveram o poder de atribuir a titulação de doutorado, outras fizeram alianças locais, regionais e em alguns casos internacionais para chegarem a esta meta.

No entanto, em alguns contextos, temos presenciado o desenvolvimento da pesquisa a nível de mestrado indicando que a preocupação em relação a pesquisa artística necessita, enquanto tópico, não ser relacionada diretamente ao terceiro ciclo. Entretanto, apesar de alguns destes mestrados serem vistos como versões “leves” do doutorado que conceitualmente, estruturalmente e também em termos de alocação de recursos, se alinham aos modelos de doutoramento, outros desenvolveram perfis fortes próprios em particular em lugares onde não necessitem rivalizar com o terceiro ciclo de educação. Este é, por exemplo, o caso em alguns países da Europa, bem como nos Estados Unidos, onde o mestrado em Belas Artes por muito tempo foi considerado a titulação máxima em artes. Tem havido um crescente número de escolas de arte alternativas interessadas, que desde o início se recusaram a entrar no modelo econômico associado com a segmentação em ciclos. É evidente que a situação institucional da pesquisa artística é bastante complexa e potencialmente confusa não apenas para um recém-chegado ao campo, mas também para qualquer pessoa ativa dentro deste campo.

De maneira diferenciada ao desenvolvimento institucional da academia, o JAR teve o luxo de evitar muitas destas questões focando no processo de avaliação por pares como também na publicação multimídia não-linear da pesquisa artística, independentemente do estatuto acadêmico do projeto artístico ou dos artistas envolvidos. Embora não possamos ser cegos quanto aos efeitos que estas respectivas normas e regulamentos provocam na pesquisa e em sua articulação, na submissão ao JAR, nós também temos testemunhado como a avaliação de pareceristas foi eficaz para conter alguns destes efeitos; os avaliadores se mantiveram pouco atrelados às ortodoxias da pesquisa e sua definição e mais engajados com a capacidade crítica e criativa da submissão, a despeito da posição acadêmica que o autor possa ter. Ainda assim, a experiência e a amplitude de conhecimento importam apesar do fato de não serem sempre tão importantes quanto as pessoas gostariam que fossem. É bem possível que a pesquisa conduzida por artistas no início de suas carreiras seja mais urgente e relevante quando comparada com as de pesquisadores mais experientes. Por que não?

Esta questão vai de encontro ao desenvolvimento do que nós temos testemunhado por anos agora: ‘a pesquisa artística’ não é apenas importante para a obtenção deste títulos que são associadas ao terceiro ciclo de educação, mas é parte de uma transformação mais ampla do ensino artístico, em particular ao nível de mestrado. Estes desenvolvimentos são talvez mais importantes do que os debates sobre os doutoramentos em artes, porque como o ensino do primeiro e segundo ciclos supera longe os números do terceiro ciclo, seu efeito nas artes e na pesquisa artística profissional será também muito maior. Seria valioso escutar mais sobre como os professores que atuam nos mestrados refletem sobre suas próprias experiências com a formação de doutoramento no ensino e descobrir o que é de maior valia para artistas jovens. De minha perspectiva, eu sugeriria talvez que olhássemos ao menos estes três aspectos em detalhes.

O primeiro tem a ver com as expectativas em relação à escrita do mestrado. Independentemente de associarmos a pesquisa com esta escrita ou não, parece haver um desconforto crescente com o modelo que opera a separação entre a prática criativa e a reflexiva. Embora as formas de escrita possam ser fundamentalmente contestadas por alguns, muitos outros talvez questionem mais a simplicidade institucional que parece estar ultrapassada face a complexidade da prática contemporânea. As práticas de pesquisa são relevantes quanto a isto em vários níveis: questões de originalidade, entendimento de contextos, bem como as escolhas quanto a forma. Enquanto a pressão para associar qualquer destes pontos com a pesquisa possam ser relativamente baixos quando comparados com a educação do doutoramento, as questões que os profissionais se colocam são altamente relevantes.

Em segundo lugar, podemos olhar para a mudança do papel das disciplinas artísticas ofertadas no mestrado quando a oferta de disciplinas identificadas como artísticas passou a ser menor do que as de recursos para a prática, sendo a negociação entre ambas constante. Embora os aspectos da transdisciplinaridade sejam relevantes aqui, por serem aspectos requisitados tanto na esfera artística quanto na não-artística, bem como nas pesquisas acadêmicas e não-acadêmicas, o mais importante é o que seria ‘transdisciplinaridade intra-artística’ se um quase-oxímoro fosse permitido. Tal abordagem nos permitira observar os efeitos da prática transdisciplinar no contexto da educação transdisciplinar, ou seja, adotando uma perspectiva que focasse para o interior ao invés de para o exterior, o que nos permitira traçarmos os efeitos da transdisciplinaridade com mais proximidade. Em particular, poderíamos focar o trabalho artístico aparentemente mais tradicional que é cada vez mais sensível às múltiplas histórias que habitualmente é categorizado como tal. Minha percepção é que as mudanças das formas artísticas neste nível são insuficientemente conectadas com a noção de pesquisa para levantar questões sobre a integridade, bem como sobre o agenciamento histórico da prática profissional.

Isto me leva a um terceiro aspecto, o qual se relaciona ao propósito: parece ser que o escopo dos ‘universos da arte’ se multiplicaram e se expandiram ao longo dos anos com as frequentes formas contraditórias e práticas que são aceitas como arte dentro destes universos. Embora a produção de objetos artísticos e commodities (por exemplo, obter sucesso no mercado de arte primário) ainda importam, há muito mais o que os artistas possam fazer hoje em dia que não é capturado pela “exposição final”, incluindo-se o ativismo de certos artistas como produtores de conhecimento que ficam de fora do que é cunhado como a ‘economia do conhecimento’. Ao invés de olharmos para produtos, há uma tendência crescente para olharmos para um grupo de atividades distribuídas, conectadas dentro e fora da arte e para a base econômica que infere na grande maioria dos níveis acadêmicos. Em vez de deixarem a questão da profissionalização para muito depois da titulação na esperança de que a ‘descoberta’ aconteça, os artistas jovens se tornaram mais espertos ao incorporarem esta questão já desde o início de suas formações. Isto inclui interesses ativos no desenvolvimento das pedagogias artísticas entre estudantes e professores como sendo um um elemento vital e prático para qualquer noção de arte.

Esta lista pode muito provavelmente ser alargada, alguns detalhes podem ser questionados ou revistos. Entretanto, o que é importante para mim no contexto da educação do mestrado de artes é o fato de que os efeitos da pesquisa talvez não sejam nomeados adequadamente. Embora os estudantes de mestrado de artes possam optar por expor suas práticas como pesquisa, eles podem também ter outras prioridades. Focando-se demasiadamente nas noções de pesquisa em estágios ainda não apropriados pode ser prejudicial, tal como quando as ‘questões da pesquisa’ sejam impostas, e ao mesmo tempo — e isto é muito importante — o que acontece no campo (incluindo-se o que nós publicamos no JAR) possa ter um profundo impacto.

Há também consequências para a discussão mais ampla sobre a ‘pesquisa artística’ com enfoque no mestrado de artes que nos permite talvez amenizar um pouco a pressão que vem atrelada a este rótulo. Da perspectiva da pesquisa artística, parece importante iniciar um debate sobre o papel que a educação de mestrado possa ter no desenvolvimento do campo. Minha percepção é que aqui seja onde as mudanças mais radicais possam acontecer. Estranhamente, este debate não ocorre muito entre as disciplinas em uma universidade grande, e sim dentro da escola de arte ou dentro do departamento de arte, incluindo-se a maneira como os diferentes ciclos e as identidades que estes carregam interagem dentro dos estúdios. Em última análise, há sempre o risco de que a educação do terceiro ciclo como também projetos como o JAR sejam mal entendidos como defendendo noções de pesquisa, enquanto, na realidade, tudo o que importa são os compromissos estéticos-epistêmicos dos profissionais criativos, independentemente de sua titulação.

Michael Schwab
editor chefe

31 Days Old - Performance, Family and Ethics

Sarah Black and Andy Frizell

In this exposition, Dr Sarah Black-Frizell and Andy Frizell, discuss the performance installation 31 Days Old (2016). This involved a full-scale installation performance in Sarah and Andy’s family home, in collaboration with Sarah (43) her mother (age 66), her auntie (age 54) and her daughter (age 3). This project highlights domestic photography as a strategic trigger for personal and family narratives and memory work. The work consists of film, live performance and original music and soundscapes.

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Exploring and Prototyping the Aesthetics of Felt Time

Elsa Kosmack Vaara and Cheryl Akner Koler

The intention of this research is to investigate how interaction designers may explore felt time through the culinary practice of sourdough baking. In this exposition we share how the physical experience and manipulation/shaping of time in sourdough baking provides an experience of fulfillment and satisfaction. We show our insights on how interaction designers, and possibly many other communities of practice and discourse, may learn from this.

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Impulsive Incantations - Voicing Migraine

Mariske Broeckmeyer

When migraine arrives, not only the body suffers. The voice too is impacted by a condition that introduces itself with such great force. As a migraine-suffering singer I notice these changes and become fascinated by the aesthetics of a failing voice in a failing body. This exposition reflects upon the relevancy of Migraine Music as an aesthetic phenomenon and by focusing on the specific area of the vocal and the sonant, I project the issue into a broader context of language, speech and communication. First, I find the migraineur’s voice to be missing as it is silenced by society.

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Methods of Indirection: a trialogue between Patrizia Bach, Howard Eiland, and Luis Berríos-Negrón about Walter Benjamin and translating The Arcades Project

Luis Berríos-Negrón, Patrizia Bach, Howard Eiland

Walter Benjamin deemed his Arcades Project [Das Passagen-Werk (Mit Bindestrich und Werk mit Capital W)] “the theatre of all my struggles and all my ideas.” As a vast accumulation of materials, it had become for him a literary laboratory for testing social, critical, and spatial ideas. The co-authors here present an exposition where they look to reactivate that ‘theatre’ to search, test, and draw from each other alternative recursions for their respective practices.

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Soft Robotics and Posthuman Entities

Mads Bering Christiansen, Jonas Jørgensen, Anne-Sofie Emilie Belling, Laura Beloff

Through collaborative media arts practice we explore texture morphing soft robotics as an artistic medium of expression. We present an installation, Homo Viridis, that features a soft robotic interface developed to mediate signals between a vascular plant and a human body. The exposition paper discusses how Homo Viridis stages a situation of hybridity where individual, more-than-human subjectivities are mentally and physically intertwined.

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